Lembro muito bem das brilhantes supervisões com a professora Paulina Cymrot, na Faculdade de Psicologia, quando ela nos fascinava com a sua “mágica”.
Ao longo do último ano fazíamos o acompanhamento psicológico de um paciente, em atendimentos semanais, sob a orientação da professora. A cada semana passávamos pela supervisão, relatando a ela e aos colegas o que havia acontecido na sessão daquele período.
O mais interessante e impressionante, para mim, era a habilidade da professora em captar a essência do que acontecia nos atendimentos, mesmo a partir dos relatos mais superficiais e concisos. Ela parecia conseguir “ouvir o que não era dito” e traduzir as nuances mais sutis dos nossos encontros com os pacientes. Na verdade, parecia que ela estava mais presente nos atendimentos do que nós mesmos! Para mim, aquilo era pura magia!
Mais ainda: além de pontuar as questões fundamentais trazidas pelos pacientes, ela ainda apontava as nossas próprias questões pessoais emergindo, ao atuarmos como terapeutas! Isso dava até um certo medo…
E quando mencionávamos a sua habilidade em captar as sutilezas dos atendimentos, dos pacientes e de nós mesmos, ela ainda nos dizia que tudo aquilo não era nada sutil, mas completamente explícito!! Nessa hora eu percebia que o caminho seria bem longo…
Mas de todo este riquíssimo processo de aprendizado e transformação com a professora Paulina, o mais marcante para mim foi a expressão usada por ela para sintetizar a “magia” que dedicadamente buscava nos ensinar: a arte de “ler as pessoas”.
Não sei o quanto aprendi desta sua arte preciosa, mas sei que fui profundamente influenciado por esta forma de pensar. Inclusive e principalmente no meu caminho como consultor e professor de I Ching, o Livro das Mutações, onde percebi que precisava aprender a arte de “ler a circunstância”.
Neste caminho de estudo do I Ching, outro aprendizado é fundamental: a mesma circunstância pode ser “lida” de formas completamente diferentes, dependendo do ponto de vista adotado para observá-la!
Talvez você já tenha visto um poema que circula nas redes sociais, chamado “Pretty Ugly” (“Belo Feio”), de Abdullah Shoaib. Fiquei encantado com este exemplo de como uma simples mudança de ponto de vista pode inverter completamente a nossa leitura da circunstância! Reproduzo abaixo o poema, tomando a liberdade de ousar uma tradução livre, só para facilitar a leitura de quem não lê inglês.
Primeiro, leia o poema normalmente. Depois leia de baixo para cima.
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